quarta-feira, 23 de julho de 2008

Correntes finais

Acordei. Olhei para baixo, e vertigens esmagadoras apoderaram-se de mim.
À minha frente brilhava uma luz intensamente forte, era o Sol. Podia observá-lo através de uma janela com grades que se encontrava diante a mim. Através da janela, vi a altitude em que me encontrava; Eu estava perto das nuvens, lá em baixo tudo era pequeno e distante. De repente caio em mim! Olho para cima e vejo os meus braços a sangrar; Estava acorrentada pelos pulsos, dei por mim a oscilar lentamente. Entrei em pânico, lágrimas contínuas deslizavam pelo meu rosto. Não sabia o que fazer, era demasiado apavorante encontrar-me em tal situação.
Milhares de pensamentos obscuros percorreram o meu cérebro, questões indeterminadas apoderaram-se de mim.
Olhei em meu redor e reparei que estava escuro, muito escuro. Apenas a luz do Sol fazia com que eu me pudésse aperceber onde estava.
Era um compartimento estranho, reparei que tinha forma circular, e que eu me situava no centro... Um cenário arrepiante, do qual eu fazia parte. A sala estava vazia, obervavam-se apenas muitos insectos, correntes e pó, muito pó que me dificultava a respiração. Aquelas paredes em pedra, e os ruídos que delas surgiam, aterrorizavam-me.
Acorrentada sem puder escolher, sem conseguir pensar. O tempo estava a esgotar-se. Eu teria de arranjar uma forma de me libertar daquelas correntes que me aprisionavam os pulsos por de cima da minha cabeça... Mas era impossível conseguir tal coisa! Eu ficara cada vez com menos forças, os meus pulsos sangravam cada vez mais.
Gritava por ajuda, mas ninguem me socorria. A minha voz ecoava naquela sala, na minha cabeça! Não dei pela noção do tempo, mas passei horas indeterminadas a gritar socorro. Foram diversas vezes que, ali parada, inconscientemente de tudo, via o nascer do sol, sentia o anoitecer. Foram vários os dias de sofrimento, de espera, de pânico.
Mas o tempo era limitado, eu não era suficientemente forte para aguentar mais tempo o frio do anoitecer, a sede, a fome. A falta de forças, esgotou-me... aquela posição vertical permanentemente, a oscilação constante com o objectivo de alcançar o chão.... era demasiado insuportável.
Não sei o que aconteceu depois. Recordo-me apenas de estar caída naquele chão coberto de poeira, e rastejar até ao outro lado da sala. Lá estava um grande espelho no qual vi o estado em que me encontrava. Estava branca e os meus lábios roxos tremiam. O espelho reflectia um corpo mais além. Tentei aproximar-me rastejando mas parei a meio. Não tive forças para mais... E vi então que, ali no meio daquele compartimento, estava o meu corpo, imóvel. Estava pálido, extremamente esquelético. Aquele rosto desfigurado era meu, eu vi, eu senti. Era eu que estava ali deitada, quieta, rodeada de sangue sem me conseguir mexer. Aquele corpo era meu; eu estava morta. Foi então que, tentei gritar de desespero e assim apercebi-me que já não tinha voz.

Se aquele corpo era meu, então como era possível estar a vê-lo, estar eu própria a ver-me morta? Não consegui raciocinar. Avistei uma porta de ferro ao fundo da sala em que me encontrava... Tentei pôr-me de pé, mas mais uma vez: tentativa falhada.
Já não valia a pena tentar mais. O meu corpo já estava morto, a minha mente apavorada.
Para quê tentar alterar o destino?! Lentamente, o meu rosto aproximou-se do chão e a capacidade de viver ausentou-se. Senti o sangue parar de circular, senti-me fria como o gelo.
Deixei de respirar.

3 comentários:

Sandra Silva disse...

Perfeito.
um beijo...

Anónimo disse...

Lindoo, adorei o texto beijinhoss :)

Libelinha disse...

Obrigada
:)