domingo, 28 de dezembro de 2008

No Limite do Ódio

No limite do Ódio

Finalmente, lápis e papel. Tenho que escrever, estou a explodir.
Sinto-me a estoirar de raiva. Apetece-me gritar, berrar bem alto até ensurdecer todas estas ditas pessoas. Quero berrar até desfazer as minhas cordas vocais, até perder a voz, até sentir que tudo à minha volta se desmoronou durante o meu súbito e inconsciente grito... um grito que é para mim devastador, mas que para todos vocês é inaudível, desprezado, completamente ignorado sem capacidade para estragos alguns. Um grito calado, um grito de ódio que se desenvolve dentro de mim e, que a cada segundo que passa dói mais, ferindo-me a alma sem dó nem piedade.
Estou tão farta. Sinto-me alérgica a seres humanos, a cada vestígio de vida racional. Sinto cada pequenino momento de alegria a escorrer-me por entre os dedos e transformar-se em pesadas lágrimas impossíveis de carregar. Não as aguento mais. Não suporto todas estas tortuosas atitudes inumanas.
Estou a ferver, sinto a fúria a crescer no meu interior, sinto que pode rebentar a qualquer momento. Sinto que todos estes arrufos estão, e agora mais que nunca, a contribuir para me transformar num ser mais que horrível, mais que indesejado; num ser ainda mais estúpido que o habitual. Sinto que pouco a pouco reflicto-me nisso mesmo, num monstro em forma de gente...

sinto que no meio de tanto ódio acabo por deixar de sentir o quer que seja.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal?

Natal?

Não estou com um único pedaço de paciência para escrever um desabafo sentimental, comovente ou algo mais parolo. Não estou com pachorra alguma para essas porcarias.
Desculpem estas expressões, mas este dia é mais que estúpido.
Natal? Que bonito!! Todos estão juntos e anseiam pela meia-noite para abrir os presentes. Tão mágico, tão único. É Natal, viva!
Até fazem montes de campanhas bonitas e tocantes para ajudar os pobrezinhos, os ditos coitadinhos que vivem na rua ou as crianças que são todos os dias vítimas de escravatura, vendidas, mal-tratadas e que vivem sem condições nenhumas, com fome, sem higiéne, sem amor, sem qualquer gesto de carinho. Para quê armarmo-nos em bondosos e meigos neste dia? Para quê mostrar um lado que para muitos não existe? - um lado falso de preocupação e bondade? Oh Meu Deus! Será que estas crianças e estas pessoas sem abrigo existem únicamente 1 dia no ano? Será que têm direito a serem alimentados apenas no dia mais bonito do ano, o mágico e maravilhoso Natal? Porquê estas campanhas de solidariedade? Para mostrarem que se lembram dos mais desfavorecidos? Não, meus amigos. Até bem pelo contrário. Esta gente, estas pessoas lembram-se exclusivamente dos mais desfavorecidos porque fica sempre bem mostrar que se é solidário, mostrar o raio de um lado sentimental que não existisse. Sim, que não existe, pois se existisse todos esses seres tão superiores que têm nas suas mãos o poder, não deixariam de todo que isto acontecesse, que todas estas pessoas sem condições continuassem assim, sem progressos alguns. Não me digam que é feito aquilo que se pode, não me queiram tapar os olhos. Não me digam que mais vale um dia no ano do que nenhum; Não me digam isso porque quem tem a coragem de o dizer é porque concerteza não tem a capacidade de sentir, e de perceber o quão desumano é viver daquela maneira. E não percebo como conseguem ignorar esta situação. Mas tudo bem. Ignorem à vontade, estão até aí, no vosso direito; mas não quando se dão ao trabalho de tentar acalmar os ânimos ao encobrir da população esta desumanidade, tentar mostrar através de iniciativas natalícias que é bom contribuir, que
para nós ajudar não custa e que para todas essas pessoas, todos os mais pequenos gestos de ajuda valem muito. Até certo ponto sim, têm razão: de facto não nos custa a nós ajudar os outros, mas para quê ajudá-los no Natal em vez de pôr em prática algo concreto que os ajude não só no dia de Natal, mas sim sempre?!
Sim. Já estou habituada a comentários do género "então se és assim tão generosa e amiga porque não fazes algo revolucionário?". E se a mentalidade de pessoas que dizem tamanha barbaridade evoluísse um pouco e percebesse que uma única pessoa não é capaz de mudar o mundo?
E eu sei que por muito indiferentes, por muito que ignorem tudo isto, toda a gente por mais fria que seja tem noção de que é preciso mudar. Então porque não mudamos? Porque continuamos de braços cruzados à espera de que algo seja feito? Porquê não passar a palavra e ter consciência de que cada um de nós pode fazer a diferença? Porquê?
Natal? O Natal já não tem magia, já não tem cor. O Natal é triste. Nós pintámos um fundo a preto e branco sem retorno possível e desta forma o pouco branco que ainda existe deste triste cenário desaparecerá por completo...

Odeio este discurso mas é inevitável fazê-lo.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Sepultura

A Sepultura

Escolhi pedra a pedra; cada grão de terra, cada insecto devorador, cada pedaço de tristeza. Elegi-os ponderadamente: cada um mais perfeito que o outro! Faltava-me o sítio ideal... um lago sangrento carregado de sofrimento e dor; uma floresta escura, sombria e ilusória, vandalizada por almas perigosas... Seria assim o local da minha fusão de horrores, o local do meu além, o local mais perfeito para construir a minha eterna sepultura. Seria irónico dizer que esse sítio me caiu do céu mas na verdade assim foi... finalmente encontrei-o; um paraíso absoluto, um reino só meu que imergia a paz do inquietante e perturbador silêncio; o silêncio de todos aqueles momentos perdidos, de todas aquelas palavras que se sumiram do meu cérebro, que foram na sua generalidade, em vão.
Longe de tudo quanto era humano, pude apreciar calmamente aquele que apatir de agora seria para sempre o meu espaço, o meu mundo... o meu nada!
Voltei no dia seguinte. Caminhei ao anoitecer até ao local que elegi com todo o amor. Estava frio... tanto frio! O caminho enlameado dificultava-me a passagem; As raízes espinhosas das árvores que se estendiam até ao caminho fizeram-me tropeçar – arranharam e feriram-me arduamente o corpo: picadas dolorosas que me queimavam a película interior, a mente!
Recolhi os deliciosos espinhos, erva por erva, e segui caminho. Depois de tantas dificuldades cheguei! Atirei-me para o chão pantanoso e deliciei-me com o seu maravilhoso paladar! Acariciei-o, saboreei-o, cavei-o lentamente. Prezei aqueles doces instantes que nunca seriam repetidos durante toda a minha vida morte. Escavei cada parcela de terra delicadamente até obter uma cova profunda, e juntei então essas mesmas parcelas em torno da cavidade. Estava de facto, uma obra de arte! Era a minha sepultura que respirava liberdade, uma brisa incrivelmente natural. Diferente sim, mas única. A única sepultura que exibia a sua mais eloquente beleza! Para que precisaria eu de uma enorme pedra em cima depois de estar morta? Para ser mais uma campa comum? De nada me serviria!!
Depois de terminada, observo-a, aprecio-a obstinadamente até chegar a uma conclusão, a uma única palavra que descreva tamanha beleza... mas é demasiado perfeita, demasiado minha! Em frente á minha [futura] sepultura despeço-me de todos os momentos, da luz do sol, da escuridão da noite, dos sorrisos insaciados, das lágrimas sangrentas e de toda a (in)felicidade... atirando-me então para o vazio, para a profunda e deslumbrante incerteza do infinito, da minha perpetua sepultura
... E vejo-me para sempre no meu tão doce e desejado fim.

... And rest in peace...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Invisibilidade

Invisibilidade

Quero ser invisível.
Quero vestir a minha capa transparente e viver o que nunca pude. Quero olhar-te nos olhos e dizer-te com a minha voz inaudível que te amo. Quero tocar-te, beijar-te com a minha doce transparência; sem que te apercebas, sem que me vejas, sem que possas soltar um horrível não à minha presença. Para quê esconder de mim mesma a realidade? Não vale a pena!
Quero, e sei que sim - eu vou conseguir! Com ou sem transparência eu vou alcançar(-te).

Não quero saber demais nada. Não me importa o que pensam, o que dizem, ou o que simplesmente desconhecem. Não vou deixar envolver-me outra vez por palavras amigas que me levaram a desistir. Sei pensar por mim própria, sei tomar decisões. Acima de tudo sei que nada é ímpossível, a não ser que eu assim o queira. E não, não estou a ver o lado mágico da situação. Estou pelo contrário, com os pés bem assentes na Terra, capaz de ver lucidamente aquilo que realmente é ou não possível. Não digo que será fácil, pois também não me quero enganar a mim mesma, mas não é de todo impossível. Eu sei que não. E nada, absolutamente nada me fará perder esta determinação.