quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sossego Infernal

Acordo sobressaltada!
Está frio, e muito escuro! Mal consigo respirar. O ar parece escasso! Acendo a luz, mas continua escuro... uma escuridão diferente de todas as outras, uma escuridão gélida, sufocante. Arrepio-me e depressa me ponho de pé!
Caminho lentamente pelo chão gelado do corredor, um corredor sem fim, um corredor sem luz, um corredor vazio, onde apenas o bater do meu coração se ouve.
Este som irritante deixa-me completamente apavorada, ao perceber que tudo á minha volta não existe, ao perceber que estou rodeada por um vazio silencioso, um vazio perpétuo. Só eu, e apenas eu! Por momentos, deixei de o ouvir bater. O meu coração deixa de bater; É então que um silêncio perturbador se instala!
Continuo a caminhar ao longo de todo este corredor, cada vez mais perturbada com o silêncio que se entranha na minha mente.
Acelero o passo. Não sei para onde me dirigir, só queria que a escuridão, este silêncio, me abandonasse... só queria libertar-me de todo este medo, para sempre.
Caminho cada vez mais depressa. Estou assustada. Choco contra as obscuras adversidades deste corredor, deste túnel sem fim.
Vejo ao longe grandes labaredas, que formam uma parede de chamas. Corro para junto delas! O ar é agora mais abrasador. Sinto-me a descongelar lentamente. Agora tenho luz, calor... que afastam a escuridão fria por momentos...
Apercebo-me então que é mais uma barreira, meu Deus! Uma barreira de fogo, que tenho de atravessar. Mas se o fizer, morro!
A escuridão ou a luz? O frio ou o ar acolhedor do conforto?
A Vida ou a Morte?
O tempo não pára, é cada vez mais escasso. Não posso gastá-lo ao questionar-me com inexplicáveis reflexões! Tenho que tentar, não posso perder mais tempo!
Quero e vou conseguir ultrapassar esta barreira, tenho que arriscar. Recuo alguns passos, e ganho tento ganhar coragem; Não consigo, é difícil demais! Que desespero! Não posso ficar aqui para sempre, neste corredor sem fim... Não há alternativa, é a única hipótese de escolha!
Mentalizo-me mais uma vez, e avanço rapidamente contra a parede de chamas que se encontra à minha frente, encostada a mim, e na qual estou agora introduzida, rodeada de monstruosas chamas, asfixiada por este calor mortífero! Estou em chamas, estou a arder! Movo-me entre esta espessa camada de fogo, à descoberta de algo a que possa chamar de vida!
Estou a morrer, sinto-me em cinzas. Estou num inferno em chamas, um inferno sufocante que me corta a respiração.
Como é possível que aqueles insignificantes segundos se tenham transformado em tortuosos milénios da minha vida? Sou cuspida para o chão pelas ensanguentadas labaredas que me absorveram. Pouco a pouco sinto oxigénio à minha volta. Estou de volta a este mundo, sem chamas. Sinto o ar a ser inspirado por algo que não está em mim. Estou no lado de lá das chamas. Estou em cinzas, não sinto o corpo. De olhos abertos tento ver o que me rodeia... Já não há escuridão, já não há frio, já não há medo. Estou imóvel, nem pestanejar consigo! Sinto-me feita de barro, uma peça sem vida, sem reacção, sem nada. A dificuldade de respirar é descomunal... não consigo ver, não consigo ouvir, apenas consigo sentir que me estou a afogar neste cheiro a queimado, nestas cinzas, neste nada que sou eu!
E aqui, estática e apavorada, espero pela chegada do fim que me há-de levar para sempre, para as verdadeiras chamas, a morte... Espero por esse momento, um momento que roubará tudo aquilo que dificilmente ainda me resta!
Não posso dizer que venci, mas ainda posso dizer que tentei.

2 comentários:

c.b. disse...

e tentar é o primeiro passo primordial para vencer!

um beijinho*

Unknown Artist disse...

Sabes, fizeste lembrar a musica dos Coldplay - fix you,
"if you never try, you'll never know..."

A vida é feita de escolhas,
sem saltares e arriscares nunca saberás o que se encontra do outro lado das chamas...
Há quem salte, mesmo sabende que se pode queimar!
Porque não saltar na esperança de vida?

Bijinho